Se você perguntar como está a economia em um município que passou a combater os desmatamentos, é possível que ouça como resposta: “vai devagar”. Isso porque, ao eliminar as derrubadas ilegais, também são excluídas as atividades econômicas relacionadas. Isso vai desde a venda de carvão e madeira até o comércio de motosserras, o posto de combustível e a oficina mecânica. Toda uma economia local gira em torno da degradação da natureza. Ao combater o desmatamento, portanto, é preciso também investir na substituição de economia local por uma mais sustentável.
Essa é a síntese de uma das propostas que governadores de estados de vários países do mundo discutiram durante essa semana, em Barcelona. O encontro que acabou e reuniu 26 membros da Força Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas (GCF, do nome em inglês), que inclui políticos da Indonésia, Peru, México, Nigéria, Espanha e Estados Unidos e Brasil. Juntos, eles detêm mais de 25% das áreas de florestas do planeta. Os governadores brasileiros presentes são todos da região Amazônica.
Simão Jatene, governador do Pará, fez uma apresentação e apontou as necessidades dos governos irem além das medidas de comando e controle, que punem e multam desmatamentos, mas não são tão efetivas no longo prazo. “Com comando e controle você combate uma economia que obviamente é agressiva ao ambiente, mas não deixa nada no lugar para suprir as necessidades financeiras da população que vivia daquela atividade”, diz em entrevista. Essas iniciativas de comando e controle, na visão dos governadores presentes, não conseguem manter e aprofundar os ganhos com a redução do desmatamento. Prova disso seriam os índices de redução de desmatamento que estão estagnando.
Outro ponto de discussão no evento foi o mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal (REDD). Segundo Justiniano Netto, coordenador do Programa Municípios Verdes, do Pará, que esteve no encontro, foi quase um consenso que o REDD não avançou como se imaginava há alguns anos. O mecanismo consiste em pagar para as pessoas que mantêm a floresta em pé, como um prêmio pela conservação. “É um mercado que não movimenta tanto dinheiro quanto o necessário para mudar a situação socioeconômica de uma região. Precisamos investir nos negócios que envolvam cadeias produtivas e empregos, como uma agricultura e pecuária mais sustentáveis, que não pressionem a floresta”, disse.
Durante o encontro, defendeu-se como medida para ir além do REDD os fundos de investimento. Os governadores, por serem representantes mais próximos da sociedade do que o poder federal, podem facilitar o diálogo entre esses fundos e empresas do setor privado. Netto afirma que o ideal é que os fundos direcionem o dinheiro apenas a negócios sustentáveis e comprometidos com a economia de baixo carbono.
Sem esses fundos, diz Netto, muitas empresas não se sentem atraídas para fazer negócios ou produzir na região amazônica porque consideram o custo muito alto e o retorno baixo comparado com outras regiões, como o Sudeste. Além da insegurança fundiária. O ideal, então, seriam fundos que invistam para que os negócios ganhem fôlego e se mantenham até não precisar mais dos aportes externos. “Precisamos desse capital de risco e mais aventureiro, mas que tenha como filtro as noções de sustentabilidade e com esse recorte regional da Amazônia”, afirmou.
ENGEFLORA Projetos e Consultoria Florestal Ltda.